Um mambembe solitário, um violeiro da caatinga Carente de abecedário mas em verso e prosa, vinga Com as suas improvisações em tons acolhedores Arrancava aplausos das senhoras, dos senhores Arrancava os gritos ensurdecedores das meninas
E eu, flor do norte de Minas Com fé em Deus, Nossa Senhora Pedia, como graça, pra que não fosses embora
Andarilho, repentista rei, no sertão, no agreste Nunca deixou nenhum verso escapulir sem luz celeste Com suas ricas aliterações, palavras dóceis, serafinas Dádiva da vida, chamou-me de divina diva Eu, toda cativa, me dei de corpo e alma ao cantador
E eu, ´inda menina flor Virando escrava e ele senhor E, assim, seguia até ele sair de meu calor
Do martelo agalopado, glosador e cordelista Do galope à beira-mar, da embolada, grande artista Com sua fértil imaginação fazendo susto e alarido Afrontava o demo com a sanha de um leão ferido Depois se acalmava se enrodilhando em mim
E eu: o abrigo, a musa, a inspiração Em meu ventre: seu delicado grão Queria que quisesses mais a mim que ao sertão
E partia com o sol esturricando o chão E eu, tão só, em oração: Pedia que quisesses mais a nós que ao sertão
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